Eu achava que com o passar do tempo o rap ia ter letras mais profundas, até tem, mas boa parte ainda copia a parte vazia que faz sucesso no mainstreen americano e esses são os mais visados. Com o passar dos anos os raps que falam sobre a cultura afro, consciência negra, zumbi dos palmares e outros personagens históricos estão cada vez mais raros, fora que, os negros deixaram de ser protagonistas no rap ja tem um certo tempo, mas isso é uma outra história..
Hoje a música é descartável, assim como o seu conteúdo, vivemos em tempos tecnológicos onde a empatia é uma curtida do facebook, um comentário de momento, nada feito hoje dura mais que uma semana, são tempos estranhos...
listei mais 12 raps que falam sobre o assunto, mais pra lembrar, pra tazer esse resgate, essa parte importante que não pode e não deve ser apagada, deixo enfatizado aqui que é uma lista pessoal, mas acredito muitos vão se identificar, espero que gostem.
O álbum "Preste atenção" de 1996 é um dos representam com maestria a década de 90, mas o single "Afro Brasileiro" é de 1995, acredito que foi lançado por causa dos 300 anos de zumbi que se comemorava aquele ano, o rap fala sobre auto estima, auto valorização e da uma puxada de orelha dizendoq eu estamos deixando nossas raizes de lado... se aquela época ja estava ruim, imagina hoje?
O Grupo PosseMente Zulu foi formado no inicio dos anos 90 por Rappin' Hood, Johnny MC e DJ Akeen mas em 1995 no vale do anhangabaú aconteceu o "Bum" deles, pois rolou um show em homenagem aos 300 anos da morte de Zumbi dos Palmares (Recomendo e muito que procurem vídeos sobre esse show histórico), enfim nesse dia a música "Sou negrão" virou um hino nas rádios comunitárias, nos carros e na boca de cada negro periférica de sp. O grupo se desfez antes de lançar o álbum de estréia, e só em 2005, os três integrantes se reuniram novamente e lançaram "Revolusom: a Volta do Tape Perdido", em referência ao atraso do lançamento, vale lembrar também que em 2001 Rappin Hood lançou pela gravadora trama o seu álbum solo de estréia "Sujeito homem" que ganhou uma versão samba-rap da música "Sou Negrão" com a participação da ícone Leci Brandão.
Acho que até hoje nenhum outro rap trouxe pra mim tanta representatividade quanto "O Preto em movimento" do rapper carioca Mv Bill, lembro quando ouvi a música pela primeira vez e logo depois o vídeo, é simplesmente emocionante! Hoje o dia 20 de novembro é facilmente lembrado por ser feriado em boa parte das cidades brasileiras, mas antes disso nem todos lembravam do real significado, no começo do vídeo mostra um professores indagando aos alunos "Vocês sabem que dia é hoje?" E nenhum deles soube responder, esse rap é pura representatividade e elevação de auto estima, ainda me emociono ouvindo ele como da primeira vez, as colagens e a utilização do sampler do clássico "Olhos coloridos" de Sandra de Sá abrilhantou ainda mais essa música.... pelo amor de Deus não deixei essa obra prima de lado, nunca!
"O Preto em movimento", faz parte do álbum "Falcão: O Bagulho é doido" lançado em 2006, alias um dos melhores álbuns de rap nacional de todos os tempos.
Falar sobre conciência afro, representatividade em dias atuais, Amiri é um dos primeiros nomes que me vem à mente, mesmo sendo jovem esse mc mostra a cada música o seu compromentimento, a música "Vida de Negro" é de 2014 e ainda ouço muito esse rap, uma otima produção do Dj Latif sampleando o clássico de Dorival Caymmi que leva o mesmo nome.
Esse som tem uma reflexão interessante, Flow mc começa falando sobre Zumbi dos palmares e sua execução e continua falando sobre como somos escravizados hoje em dia, existe sim de fato essa escravidão mental, de achar de que certas coisas não são pra você por ser preto e pobre.... mais um som que vale a pena conferir.
Um grupo que merece destaque, as meninas do D'Origem, grupo de São José dos campos, formado por Meire Mc’ e Preta Ary elas vem cada dia ganhando mais espaço com seu otimo discurso, o som "D'origem Africana" tem o otimo beat assinado pelo Skeeter e fala de auto estima, do cotidiano das mulheres, e do fato de como as coisas ainda são mais dificeis quando se é mulher preta..
Z'Africa Brasil é um dos meus grupos preferidos até hoje e é sem dúvidas um dos melhores que ja passaram na cena, eu poderia citar várias músicas do grupo que são relacionadas ao título do post, mas resolvi falar sobre "Tem Cor Age" um trocadilho de "Tem coragem?" É uma das letras mais bonitas do rap nacional, um daqueles raps que realmente faz bem pra auto estima,
Tem Cor Age faz parte do álbum que leva o mesmo nome, foi lançado em 2006, esse álbum é como uma aula de história afro, nínguem que se diz fã de rap nacional pode deixar de ouvir.
Chega a ser ridicula a forma que esse grupo passou batido, em 2012 eles apareceram na cena e pra mim foi um dos grandes trabalhos lançados naquele ano, S.a.f.a.r.i era formado por Skeeter, Dö MC, Seht, I.C.E., Preta Ary e Dj MD, esse coletivo lançou o ep "muito prazer" em 2012 com muito rap cheio de energia positva, otimas produções e sem dúvidas uma das que eu mais gosto é a faixa "Descendentes"
A princesa Isabem fez o "grande" favor de assinar a lei áurea em 13 de maio de 1888 e extiguiu a escravidão no Brasil, eu virei um grande fã do Zap San apartir dessa música que é uma puta duma reflexão foda...
"Å professora disse que só se teve um fim em 1888
Foi necessário, na aula de matemática,
Eu fazer as conta e ver que enfim, que pior, isso mal fez um centenário"
É um pequeno trecho que chama muito atenção, acho que poucos pararam pra fazer essa matemática e ver que isso tudo rolou a pouco mais de 100 anos, que antes disso os negros eram escravos e sem direitos ao básico.... e ainda ha quem discuta Cota raciais hoje em dia...
Esse é o tempo mais pesado do DMN, o som "Última chance" faz parte do álbum "Saida de Emergencia" lançado em 2001 e essa música sem dúvida continua extremamente atual, fica a reflexão.
Esse é sem dúvidas um dos melhores raps lançados em 2016, sobre esse som, Rincon descreve.
"Em “A Coisa Tá Preta”, Rincon Sapiência busca ressignificar esta expressão idiomática que, junto a outros ditos populares, acaba por diminuir a autoestima do povo negro, carente de referências positivas relacionadas à cor de sua pele. A imersão do rapper no universo da música africana se destaca em “Galanga Livre”, seu primeiro álbum, com lançamento previsto para o final de junho."
O álbum infelizmente não saiu ainda, mas sem dúvidas será um dos melhores da cena.
Finalizando, toda vez que ouço esse rap eu me emociono, Dukes teve a sensibilidade fazer esse rap que é impossivel um negro não se identificar... sim, não recebemos as chibatadas que nossos ancestrais receberam, mais ainda carregamos as cicatrizes dela, por vários meios, exclusão social, educacional, institucional....